segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mais bizarrices francesas.

A higiene francesa é algo a desejar sim, seja higiene corporal, alimentar, dos ambientes. Aqui o povo mete a baguete (aquele pão comprido), sem a embalagem que o protege das intempéries e poluição, de baixo do braço, provavelmente jà meio fedido, e sai feliz da vida pra comer na sua casa que também não deve ser a mais limpa do mundo. Fazendo um parenteses, não vamos generalizar. Hà controvérsias e hà pessoas, lugares, comida, muito bem servidos e limpos. Ah, a comida… Putz, que saudade do arroz com feijão e dos restaurantes self-services do Brasil. Putz, saudade mesmo. Saudade do calor do inverno brasileiro, saudade de muita coisa. Aqui o estatuto de violencia é algo quase que inacreditàvel. Aqui a violencia para eles é alguém passar a mão na tua bolsa sem voce ter visto. Ou ser levemente agredido no metro por alguém que quer apenas sua bolsa. A cidade mais violenta da França é Marseille, que fica a quase 30 minutos daqui. O que é Recife então, Rio e São Paulo para eles ? O inferno ? A polìcia é eficiente e mesmo num roubo corriqueiro como o laptop de um estudante que foi roubado no alojamento, eles desvendaram o caso. Coletaram digitais no quarto e o cidadão foi preso.

A boa da night daqui é ir para uma boate onde não se paga nada, absolutamente nada para entrar, apenas o que se consome. Mas também é caro consumir. Então o que a maioria faz é beber em casa, ou nas milhões de « places » ou no Parc Jourdan, de preferencia um vinho, vendido nos supermercados de 3 a 5 euros em média e vinhos dos bons, e sair para um desses lugares. Ou seja, pouco ou nada se gasta e se diverte, sò que não hà muitas opções e os lugares são sempre lotados. Ou então mais barato ainda, reunir o povo na casa ou no quarto de alguém no alojamento e ficar là batendo papo a noite toda. Em todos os lugares pùblicos e fechados, como essas boates, é extremamante proibido fumar e todos respeitam. Aqui cidadão paga multa por estar em lugares não permitidos e agir incorretamente. Aqui todos acreditam em tudo o que voce fala. Dà até pena de contar uma mentirinha de vez em quando. Os franceses principalmente, não os imigrantes como eu, são todos muito inocentes. E dà para acreditar em tudo o que eles dizem. São todos muito cultos, não é à toa que a biblioteca municipal abre aos sàbados até 18h e fica lotada, mas também não abre às segundas. Mas as ruas sao uma grande lixeira... Aqui tem de modo geral, muita coisa boa, mas muita coisa ruim...

A questão da maldita idade, também é a bendita idade, porque fui a uma dessas boates com mais tres amigos, e o cidadão da portaria barrou a mim, somente a mim, me perguntando se eu era maior de 18 anos...rsrs... Eu disse: "Oui, merci". :), fiquei super feliz, ou nao! Deve ser porque os jovens de 18 tem cara de 30.

Aqui é voce quem faz tudo sozinho , sem ter o cara pra fazer pra ti: é voce quem tira a sua xerox na papelaria, quem abastece seu pròprio carro, quem é o proprio porteiro, e quando tem alguém pra fazer isso, essa pessoa é sozinha e faz mil coisas ao mesmo tempo : é quem prepara o lanche e a comida, é quem varre o salão, é quem recebe o dinheiro… disso também dà saudade do Brasil, de ter mil pessoas atendendo num restaurante, de ter um porteiro, do abastecedor de gasolina, de ter o cara que tira todas as xerox que voce precisa com a eficiencia e rapidez que eu nunca vou ter. Parece que as pessoas aqui vivem de verdade. Elas não tem esse estresse de cidade grande ainda. Trabalham sim e muito, mas vivem bem. Ah, tem a tal siesta onde em todos os lugares pùblico, lojas, etc, fecham às 12 :30h e sò reabrem às 14h. Putz, uma longa espera se voce tem pressa. Mas pressa pra que ?

Enfim, muita coisa, muito detalhe que eu vou escrevendo, se possivel, toda a semana.

Bizarrice!!

Ah, isso eu não posso deixar de relatar : logo no primeiro dia aqui, a Fernanda me levou pra conhecer um pouco as àreas ao redor da universidade. Aqui todo mundo te cumprimenta na rua, « bonjour » aqui, « bonjour » ali, principalmente se voce passa por alguém num lugar vazio ou diante da entrada e saìda de algum lugar. Daì passamos por uma passagem subterranea , um tanto bizarra a meu ver, porque não havia ninguém na rua. Daì um sujeito, jà com seus mais de 40 anos e até bem apessoado, apareceu do nada em cima da passagem e disse « bonjour ». Quando eu olhei pra cima ele estava com as calças abaixadas mostrando todo o seu potencial masculino. A Fernanda não tinha ouvido nem visto. Daì ele disse de novo « bonjour » e nem deu tempo de avisà-la. Ela olhou e continuamos seguindo nosso caminho. Bom, ele nada fez, logicamente, porque ele, como bem disse ela, não teria coragem de fazer nada. Ou teria? E me disseram que o povo não tem essa coisa da sexualidade. Se ele era frances ou não, pouco importa. Mas abri minha mente para ver que o mundo é mundo em qualquer lugar e é preciso arregaçar as mangas, não as calças. Mais da metade da população de Aix-en-Provence deve ser de estudante, muitas mocinhas e mocinhos bem intencionados, outros nem tanto. Todos muito jovens. Desse dia em diante passei a andar com meu bico de pato (uma pregadeira pontuda de metal que é capaz de matar um se atacado na jugular...rsrsrsr)na mão quando preciso passar por algum lugar esquisito e sozinha. Mas agora as redondezas da universidade estão mais povoadas e a cidade ferve de gente.

Il faut s'abriter

Visitei uns 10 apartamentos . Alguns muito velhos, outros mais ou menos velhos.Uns excelentes e caros, outros uma espelunca e também caros. Aqui tudo é velho, antigo. O que é novo é caro e o que é velho também é caro. Esses mais velhos, não sei os novos, possuem o vaso sanitàrio separado do resto do banheiro, como se voce estivesse na quarentena, de castigo, na solitària. Rsrsrs… Todos os proprietàrios, os mais velhos, mais rìgidos, exigem milhões de documentos, como no Brasil, claro, querendo saber se voce tem dinheiro. Se voce tem uma conta no banco, mesmo que vazia, pronto, voce tem dinheiro e pode alugar qualquer coisa. Mas pra voce ter uma conta bancària, tem que ter um atestado de residencia para poder receber as coisas do banco, ou seja, um cìrculo vicioso. Sem casa, sem conta no banco. Sem conta, sem casa. Enfim, um caos. Depois disso resolvido, e depois de muitas preces, encontrei o lar doce lar. Sim, uma fortuna se comparado ao alojamento universitàrio, mas enfim, nada aqui é barato, principalmente se voce tem mais de 28 anos e é estudante. A proprietària foi muito gentil. Comprou vàrias coisas novas, panelas, telefone, microondas, deixou até um cobertor, toalha, foi me buscar no alojamento de carro para me ajudar a pegar as minhas tralhas. E se esqueceu a um tempo não muito longo, penso eu, das burocracias que ela exigiu no anùncio.

Ah, o alojamento. Foi isso que me permitiu ter o atestado de residencia para abrir a conta no banco. Logo quando cheguei aqui fui pro alojamento, mas me assustei um pouco com tudo, pelo vazio do lugar, a mulher que me atendeu, pessoas, enfim. Daì a Fernanda, uma amiga que està fazendo o mesmo curso desde o ano passado, me segurou por 4 dias na sua casa. Mas depois saì de là e fui encarar o alojamento. Como era férias quando cheguei, estava tudo vazio. Mas tudo se saiu bem. Não é o melhor lugar do mundo para morar por um ano, mas quebra um galho se voce quer economizar. Ah, o banheiro é comunitàrio, homem e mulher, vaso e chuveiro sem distinção de sexo. Achei bizarro no inìcio, mas como me disseram que aqui as pessoas não tem essa coisa da sexualidade muito presente, encarei na boa. E foi simples. Tomei banho com o cara do chuveiro ao lado (fechado por divisòrias e não paredes, e portas, é claro), sem o menor problema. Esbarrei por pessoas no corredor enroladas na toalha… Depois de uma semana là, quando jà estava me acostumando com as coisas, conhecendo pessoas, fazendo amizades, tive que deixar o lugar. Maldita idade que vai chegando…. Mas como bem disse a Erika, amiga que eu hospedei por dois dias, meu cafofo novo é muito fofo e dà pra fazer uma mini-festinha aqui de vez em quando "sem muito barulho".

Primeiras semanas com a lingua...

As primeiras semanas desde a chegada foram bem difìceis, as 2 primeiras, mais precisamente. Apesar da facilidade em escrever e ler bem o frances, falar e compreender ainda são pra mim os grandes vilões da comunicação. Cheguei a cometer gafes que para qualquer frances que se preza, não perdoaria se voce marcasse com ele um horàrio, mas por ter compreendido outro, como trocar « seize heures » (dezesseis horas) por « six heures » (seis horas), voce não compareceu ao encontro marcado. Oralmente são quase identicas as horas. Ou mesmo chegar atrasado em qualquer ocasião. No inìcio, assim como ainda agora, em alguns momentos, quando eu falo com um frances que tem a lìngua presa ou que fala ràpido demais, eu pesco uma e outra palavra, junto tudo e balanço a cabeça como quem compreendeu. Isso funciona se o assunto é desses descartàveis, mas se não o é, como os assuntos administrativos de banco, de inscrições, aluguel, e todas as outras coisas que nesse inìcio estou tendo que fazer, tenho que abrir bem os ouvidos, como se ele estivesse gritando e querendo dizer : « fale mais devagar, eu preciso saber, isso é importante ! ». Mas na maioria das vezes ele se fecha e se cala, porque embora muito educados, os franceses não são là muito adeptos a ficar repetindo as coisas o tempo todo. E preciso ter uma tàtica para faze-los repetir a mesma coisa trocentas vezes. Mas agora, depois de um mes meus ouvidos estão mais abertos e jà é bem mais fàcil ouvir e ser ouvida.

Départ...

Trocar o certo pelo incerto não parece aos olhos de muitos uma decisão bem tomada . Mas fazer do incerto uma boa troca é uma decisão muito mais difìcil, principalmente quando o teclado frances não possui o grave e o circunflexo, como acentos da regra gramatical. Como se tudo na vida devesse seguir uma regra tão exata quanto a ortografia ou a matemàtica possam ser.

Bem, isso é apenas um ensaio de tudo o que fez parte de um momento em que era preciso agir com rigidez e ao mesmo tempo com a liberdade necessària para fazer do incerto uma troca sem os pré-conceitos do que é certo ou errado (o bom desse teclado é que existe uma tecla que tem o « é » jà acentuado, assim como o « è »). Como nòs acostumamos com quase tudo na vida, é fàcil assim fazer escolhas difìceis porque por tràs delas existe também esse caminho mais fàcil, como digitar « é », ou não é ?

As semanas que antecederam a partida « pour la France » foram, digamos, cheias de incertezas, medos, expectativas, alegrias, tristezas. Como se todas essas coisas, assim como milhões de outras, não fizessem parte da vida de qualquer ser humano com objetivos mais ou menos definidos. Como se os objetivos pudessem ser o tempo inteiro demarcados. Enfim, isso não importa. A decisão jà foi tomada. Isso é fato. Agora é seguir em frente e ver o que acontece.