sábado, 15 de dezembro de 2007

100 anos de artimanhas concretadas

Não parece comum, mas sempre que estou com amigos não-arquitetos eles sempre me perguntam o que acho de Oscar Niemeyer e, nem sempre quando estou com amigos arquitetos discutimos sobre suas obras ou o que pensamos dele. Pois bem. Até pouco tempo atrás não tinha uma auto-opinião sobre ele, mas de uns tempos pra cá me senti obrigada a tal. Pois bem. Penso que ele talvez seja o único arquiteto brasileiro a conseguir trabalhar o concreto de uma maneira inovadora, ao meu ver, e conceber novas formas, com muita leveza. Muitos arquitetos só conseguem trabalhar o concreto dentro daquele pré-conceito "caixotão". Ele não. E muitos ainda contestam seu modo de projetar: uma linha aqui, outra acolá e a idéia já está pronta. Bom, o Sussekind sabe o que faz e ele se responsabiliza por tais linhas. Pois bem. Embora eu admire essa facilidade dele em moldar o concreto como se fosse argila e pré-conceber formas tão simples com um material aparentemente tão rígido, encontro alguns contras em sua arte. A aridez, responsável pela monumentalidade das obras, na maioria das vezes é a grande vilã das contrariedades do senso comum. Nesse ponto, esse caráter monumental perde para o mais importante da arquitetura: o bem-estar humano, porque arquitetura é ser e estar humano (algumas faculdades incluem a Arquitetura dentro das Ciências Humanas, outras da Tecnológicas. É dual). Pois bem, se tirarmos alguns exemplos, encontramos: Memorial da América Latina (São Paulo), Praça dos 3 Poderes (Brasília), Caminho Niemeyer (Niterói), etc. Esses são poucos exemplares, mas dá para se ter uma idéia da digamos, falta de arborização do ambiente que ele produz. Só mesmo se escondendo debaixo de suas grandes marquises. Pois bem, uma das últimas discussões de que tive notícia, é o Parque Dona Lindu na Praia da Boa Viagem em Recife. Quando estive lá, dias atrás, algumas pessoas refutaram a idéia de que esse parque não é o que eles precisam. Eles querem coisas mais palpáveis ligadas ao cotidiano: um grande espaço arborizado, com uma pista para corridas, ciclovia e bancos para descanso. Tubarões da Boa Viagem à parte, a realidade deles é outra. E ainda tive o desprazer de ouvir que o projeto de Niemeyer não incluiu vagas para carro. Está vendo? Mais uma vez o carro para atravancar os planos. Por isso sou a favor de uma sociedade sem carros. Mas voltando... No fórum de discussões sobre a idealização do parque, dei muitas risadas: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=485979 . Interessante ver a visão do povo, senso comum, e como eles muitas vezes respondem a sua arte. Porém o senso-comum também não sabe o que um prédio de 40 andares significa na ambiência de uma cidade. Entre isto ou aquilo, prefiro aquilo, branco, concretado, sem árvores. 40 andares significam mais de pelo menos 120 carros circulando na Boa Viagem.

Bom, acho que dá para se fazer uma tese sobre Oscar Niemeyer. E não me cabe aqui tal artimanha.

Para finalizar, acredito que ele é um gênio da arte do concreto, mas poderia, hoje, dentro da nossa realidade contemporânea, com aquecimento global (ou não) por aí, incluir um pouco mais de agradabilidade dentro da sua escala monumental exterior, melhor dizendo, árvores, espaços gramados, etc... Segundo tal fórum, ele resolveu abrir mão de sua aridez e "plantou" algumas árvores. É um gênio sim, monumental sim, e sua vontade de viver extrema sim.
Tive a oportunidade de estar com ele há muitos anos atrás, num tempo ainda em que eu nem sabia o que era arquitetura e quem era ele de verdade. Talvez se soubesse, hmmmm....

Admiro muito esse arquiteto e dou meus parabéns a ele pelos seus 100 anos de amor à arquitetura.

Um comentário:

Laura_Martinez disse...

Adorei o texto!
Acho que o aspecto mais relevante é o fato dele ser ícone da arquitetura nacional com repercussão internacional.
Infelizmente, não sei se por direcionamento da mídia geral, é o único arquiteto que a população conhece... e isso é muito triste!!!
Fico muito feliz por seus 100 anos e por estar muito bem, pois merece o sucesso, mas eu acredito que outros arquitetos importantes nacionais só vão ter reconhecido seu valor após a sua morte, onde conseguirão mais espaço pois o foco não ficará mais em Niemeyer.
Com relação às obras, concordo no que se refere às formas inusitadas e como manejar o concreto. Para mim, o exemplar mais representativo é a catedral de Brasília, única!
Ainda com relação a projetos, observo duas coisas: 1a: os projetos são repetitivos no que se refere à formas. Parace mesmo é que ele adotou uma visão mercadológica da arquitetura ao perceber que tais formas dão impacto e sucesso e as repetiu. Nisso acho ele "capitalista".Já ouvi falar de plagio de outros arquitetos, mas de si mesmo, acho que foi a primeira vez! hehehe
E a 2a coisa: parece que os projetos novos dele (inclusive visitei a exposição dos novos projetos dele aqui no MAC) não é ele que faz. Quem tem vivência em escritório de arquitetura, sabe que nem sempre quem leva o nome é quem desenvolve os conceitos, as idéias. Na verdade outras pessoas estão por trás da "empresa", digo escritório, mas ele continua assinando mesmo assim. De todos os projetos novos, acho que só 1 se salva. Os outros são tristes... não vale nem como projeto final de graduação... Vai lá na exposição e me diz o que vc achou.
Claro que um arquiteto se torna famoso e com valor pelo conjunto da obra, afinal, todos comentem erros e é normal surgirem uns "monstrinhos" de vez em quando. Mas não é uma grande coincidência eles estarem mais evidentes no final da sua vida? Ou será mesmo a velhice?
Eu realmente não sei, mas as pessoas têm que desenvolver um olhar mais crítico e parar de vangloriar pessoas/projetos só porque elas são famosas. Não dá pra ir lá e dizer que achou bonito. Bom, eu pelo menos não consigo...
... Mas todo mundo adora uma celebridade né...hehehe
Beijinhossssss!!!!
Laura