quarta-feira, 5 de março de 2008

No hay camino, se hace camino al andar.

POEMAS PORTUGUESES ( 4 )

Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento

Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão

Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação

Fonte, flor em fogo,
quem é que nos espera
por detrás da noite ?

Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino

(Ferreira Gullar)

Um professor da faculdade ensinava que era inútil a arte de projetar caminhos em grandes parques, praças, jardins, etc, porque por mais que se criassem caminhos pré-determinados que ligassem dois espaços distintos, esses caminhos eram sempre burlados pelas pessoas. De um certo modo, e na maioria dos casos, é verdade. Em Brasília, por exemplo, os caminhos se formaram naqueles grandes gramados das ruas, espontaneamente. Por mais que calçadas e caminhos estipulados tivessem sido pensados "corretamente", os pedestres (que hoje, apesar do projeto da cidade voltado para o automóvel, já são muitos percorrendo grandes distâncias), criam esses caminhos diariamente. Eu mesma os utilizei quando estive lá e me foram mais úteis que as próprias calçadas, "bem-planejadas". As pessoas sabem o que se torna melhor para elas mesmas quando o dia-a-dia lhes permite tal indagação.

Pois bem... indagações à frente, o poema de Gullar se inspirado em Antonio Machado ou independentes entre si, é uma arquitetura da vida e na vida. Não faremos nossos caminhos determinados e pautados no que todos determinam que seja o mais correto. Sabemos, somente nós, individualmente, onde o próprio caminho quer levar. Mil voltas são dadas na promenade arquitetural, levando todos ao mesmo lugar - pleonasmo desnecessário. Mas caminhos projetamos ao futuro de algum modo. Sabendo ou não o que se quer ou onde se quer chegar ou como chegar, a algum lugar se chega no caminho, mas antes ver onde se quer chegar. Muitas são as promenades arquiteturais. Perde-se ou ganha-se tempo, mas lá se vai estar um dia. É preciso o caos interior para descobrir que era lá onde se queria estar, sempre foi.

É preciso madurar o caminho na grama até que ele esteja feito. Muitos por ali terão de passar.


Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar
(Antonio Machado)

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